segunda-feira, 23 de novembro de 2009

no tempo de um carlton

Hoje me fizeram uma intervenção sem querer: "gurias, aproveitam agora, vocês tem que estudar pra concurso federal". Pô, mas 4 mil do GHC é bastante! "Não é não, vão por mim."
Em torno de 12 mil réis por mês se ganha num concurso federal desses. Pensativa com o aluguel de fevereiro, pego meu Uninho bordô 2002 e passo pelo bairro Boa Vista pensando "será?". Nas calçadas, mulheres que já foram mais bonitas se dirigem pra academia, saem dos seus condomínios artificialmente super arborizados balançando o rabinho-de-cavalo quimicamente liso e de mechas loiras. "Será que eu tô perdendo meu tempo batalhando pra trabalhar no SUSto?" Já dizia o Domiciano Siqueira: professor e trabalhador de saúde sempre vão ser pobres, pois se descobriu há tempos que pobre é mais bem achado por pobre mesmo, e fica a gente se escravizando, dando os melhores anos das nossas vidas em nome de um lugar que a gente supõe ser ao sol. "Será..?" Mas e será que é possível ganhar 12 mil ao mês e não querer um trambolho de lata cor prata fosca que consuma muita gasolina? Será que é possível ganhar 12 mil e não desejar um salto agulha e o bairro Chácara das Pedras? O que eu faço com o meu sonho de viver com o pé na estrada, ou no meio do mato numa chacarazinha na zona sul, instigada por uma vida intelectual animada e, claro, ainda com o meu super seguro Uninho bordô 2002? Bom, mas quero os meus filhinhos naturebinhas no Amiguinhos do Verde... quanto será que isso custa? Estamos no auge da gostosura, a tez já está madura, já pegou sol sem protetor, não há filhos, há saúde e memória. Com que então gastar esses anos da puta madre? Com livros técnicos pra um futuro promissor? Com Barcelona, arte e amor no plural? Com Brasil ladeira acima, salário abaixo e meu amado, muito amado Uno bordô?
Que seja.
E vai ser de todas as maneiras.
Não tem jeito.
Só jeitos.