quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Tinham o sangue fervente e, portanto, controlado; desenvolviam um gosto por palavras, pois poucos, como elas, eram térmicas e canais para dar passagem ao sangue quente sem que se fizesse cair a temperatura. Na superficialidade, diferiam um pouco nas roupagens e nas políticas, por vezes, tão valorizadas no esforço de um disfarce, que acabavam por expor, aos mais atentos, a intensidade desmedida do sangue quente. Havia um lugar em que se desmediam, sem políticas, sem roupagens.

domingo, 1 de agosto de 2010

Minha avó tem 90. Não tem mais cabeça pra pensar no que pouco importa. Nos cafés, não prossegue com os assuntos de sociedade, com seus filhos não mais discute política. A ela lhe importam somente os assuntos elementares: como descer do carro sem tropeçar no degrau da calçada, ou ir ao banheiro antes mesmo que tenha vontade para não ser pega desprevenida. Não lhe interessa mais se minhas namoradas dariam boas futuras mães, só o que importa é se elas querem repetir a massa ou se precisam de mais cobertor para a noite. Minha vó não tem mais tempo a perder; já não assiste mais ao jornal, acompanha convicta as roletas do silvio santos e se der vontade de dormir no meio do filme, ronca sem pudores. Pouco mais do que como manter o corpo vivo importa.