sábado, 5 de fevereiro de 2011

diurnos

Os diurnos são os melhores. Não importa a quantidade de ingestão alcóolica, a vontade de afogar as máguas, a alegria de celebrar uma boa fase: os porres diurnos são os melhores. Eles têm a claridade que negocia com a tontura e com a vontade de ilimitar, eles têm a marotice dos fins-de-semana ou das férias; porre diurno significa o que se pode, sem tempo, sem pão-durice, sem inibição com o estranho, porre diurno rools.
ass.: um porre diurno

gagos

Talvez alguns gagos sejam gagos por se recusarem a temer falar tudo o que desejam falar.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

se eu tivesse um twitter II

A incrível história da garotinha canhota que sofria e doía com seu caderno de espiral.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

se eu tivesse um twitter

Mais importante que puxar a própria descarga, é puxar a descarga anterior...

inspiração no Odessa de Babel - Poa

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

armadilha
todas
vitrine
instinto
sábado
à noite
anúncio
pele
papo
tamanho
peixe
urbano
torresmo
chatos
carência
ócio
passado
olhar
do outro


sábado, 13 de novembro de 2010

Penélopes

Faz um tempo já eu tenho sentido a injustiça e o privilégio de entender o que se passa com as pessoas velhas. É recorrente a clareza de que o corpo acelera muito mais do que os pensamentos e as vontades, entendo os de 30 que têm 67 e isso me faz sentir uma profunda empatia por essa minha virtualidade: a velhice.

Um filme: Fatal.
Fala disso. Fala também sobre a invisibilidade das mulheres bonitas e sobre a imaturidade dos que já deviam ter crescido. Ótimo filme, boas sacadas. Na verdade um filme foda, daqueles que chegam a cometer indiscrição pelo desaviso. A Penélope Cruz fez de novo, exatamente como no maravilhoso italiano "Não se mova": deixa a pessoa arrasada no sofá, embasbacada e agradecida por se dar conta da vida através da interpretação dela. O Ben Kingsley... bom, acho que ele tava mais maravilhoso ainda; docemente familiar e perturbado, um menino muito inteligente, mas apenas um menino esforçando-se ao equilíbrio; os homens - para nós, histéricas - ficam até perdoáveis depois dele.

domingo, 26 de setembro de 2010

The Doors

Quando se abusa, quando se usa; as portas da percepção* se abrem nos estados alterados de consciência e experenciar o mundo de uma maneira muito melhor que a recorrente, seduz-nos muito. Ao ponto de algumas pessoas optarem por viver mais tempo nessa promessa de melhores relações com coisas e pessoas do que na vida de maior lógica organizada.

As portas da percepção se abrem e nos levam a próximas portas se soubermos passar por aquela sala inebriante, vertiginosa e fantástica. Quando conseguimos transpor e resgatar a potência dessa sala para momentos de química existencial regular (estados não induzidos de consciência), então a substância psicoativa cumpriu um papel que, para nós, parece interessante: nos fez experimentar algo novo, algo que produziu diferença de nós mesmos, algo que carregamos para a nossa vida. Nossa vida! Há de se lembrar dela, senão a perdemos na busca da primeira visita à sala inebriante, vertiginosa e fantástica.

*As Portas da Percepção, de Adous Huxley; inspiração para o nome da banda The Doors.

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Não parece fazer juz à complexidade das explicações dizer que nunca se sabe quem está ou não predisposto a aniquilar seu repertório de prazer e se hipnotizar doentiamente pela substância. Digo, não pelo fato de nunca sabermos sobre como as pessoas vão se comportar, digo por essa noção de "predisposição". Predisposição foi um nome eleito para dar conta, provisoriamente, da injunção estrato orgânico/estrato experencial, mas o termo ainda nos remete a uma força causal. Não que ela não se manifeste de fato, mas ela predomina no sabor de "predisposição". Então, há de se inventar ou resgatar de algum território dos signos e significados outro termo, outra palavra pra dizer de uma dupla manifestação que interaja nas suas dimensões: carne e experiência. Predisposição, probabilidade, tendência: signos que nos dizem do nosso desejo de prever e controlar virtualidades. Necessário talvez à sobrevivência, limitador de fato da consciência.




segunda-feira, 20 de setembro de 2010

continua...

Eu chegava, sentava no sofá sombrio, e alguém ia chamar a Fernanda, que sempre demorava; provavelmente levando o tempo de ser convencida a não faltar com a educação, de portanto descer e me receber, em plenos treze, mesmo não disposta a brincar com a vizinha de seis. Enquanto esperava no sofá, eu sentia o cheiro doce e proibido do catchup nas torradas que davam para o gato comer. Minha mãe nunca comprava catchup - era, portanto, meu objeto de desejo - o que me fazia achar um desbunde bizarro o gato merecer tamanho mimo. Eu amava aquele cheiro e, pensando agora, sou inclinada a acreditar que ia àquela casa por solidão e por desejo de torrada de gato com catchup. Um dia, sentadinha e, ignorando toda e qualquer insanidade infantil que já me habitava, levantei do sofá, conferi a ausência de outros da casa, me dirigi à tigela e pequei satisfeita.

domingo, 5 de setembro de 2010

Aconteceu IV

A casa era grande, eu tinha seis anos e nenhum irmão. Minha única companhia de brincadeiras naquele bairro distante e arrastado era a vizinha da frente. Fernanda, 13 anos, ruiva e estranha. Morava com os avós, nem eu nem ela entendíamos como a mãe a havia deixado lá, então nunca falamos sobre o assunto.
A regra era clara: como ela era descomunalmente mais velha do que eu, ela ditava a brincadeira e eu acatava. A casa era enorme (pra uma estatura de seis anos), tinha um sótão, um galinheiro, hortências excessivas rente ao muro baixo, um caldeirão de ferro nos fundos, um toca-discos verde-limão para moças virgens, tapeçarias na parede, móveis em veludo bordô, um avó com olho de vidro e boina, cheiro de naftalina com torradas de catchup e barulho de últimas louças do almoço sendo lavadas.
Parecia que ninguém gostava quando eu - criança magrela e inconveniente - chegava lá, nem os dois avós, nem a Fernanda, mas eu não me importava muito, não gostava deles também. Sabíamos que a Fernanda precisaria da piscina no verão, e eu só precisava descobrir um pouco mais daquela casa de mistério, principalmente daquele sótão.
Continua...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Tinham o sangue fervente e, portanto, controlado; desenvolviam um gosto por palavras, pois poucos, como elas, eram térmicas e canais para dar passagem ao sangue quente sem que se fizesse cair a temperatura. Na superficialidade, diferiam um pouco nas roupagens e nas políticas, por vezes, tão valorizadas no esforço de um disfarce, que acabavam por expor, aos mais atentos, a intensidade desmedida do sangue quente. Havia um lugar em que se desmediam, sem políticas, sem roupagens.

domingo, 1 de agosto de 2010

Minha avó tem 90. Não tem mais cabeça pra pensar no que pouco importa. Nos cafés, não prossegue com os assuntos de sociedade, com seus filhos não mais discute política. A ela lhe importam somente os assuntos elementares: como descer do carro sem tropeçar no degrau da calçada, ou ir ao banheiro antes mesmo que tenha vontade para não ser pega desprevenida. Não lhe interessa mais se minhas namoradas dariam boas futuras mães, só o que importa é se elas querem repetir a massa ou se precisam de mais cobertor para a noite. Minha vó não tem mais tempo a perder; já não assiste mais ao jornal, acompanha convicta as roletas do silvio santos e se der vontade de dormir no meio do filme, ronca sem pudores. Pouco mais do que como manter o corpo vivo importa.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Ana e as Palavras

Ana não questiona a mediação da palavra. Inesgota as perguntas de si ao limite, até dar-se conta que inexiste caroço, labirinteando por seus possíveis. Sem saber o que sabe, ainda que negue, distrai o tempo na sua lamentada improdutividade, derrama melancolias mornas pelos braços e escreve coisas que lhe faltam. Ana não questiona a mediação da palavra e enlouquece com a etimologia inventada que nasceu na ausência do caroço.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

sabe o que passa?

é que esse gozo será promissor e febril tal qual o prazer preliminar.

domingo, 18 de julho de 2010

a moita e o gozo

O gozo, no universo psicanalítico, não tem exatamente a ver com o cume do prazer, se relaciona muito mais à condição humana da punheta subjetiva. O gozo, nessa perspectiva, é portanto a vontade de repetição, não de diferenciação. Trata-se daquela excitação prévia por algo que quase sempre nos leva a uma enrascada; não a qualquer enrascada, mas a uma enrascada muito familiar. Por exemplo, aquele que está em uso problemático de um psicoativo e com repertório de vida reduzido em função disso, tem seu gozo localizado não no momento em que fuma, inala, ou se pica; atingindo assim, o orgasmo mental. Não. O gozo se localiza justamente na fissura, no momento em que se percebe não conseguir ficar sem o objeto de desejo, momento exato de um dar-se conta: "não, não posso fazer diferente, me rendo ao calmante, ainda que ele me faça mal; à torta de chocolate, ainda que eu tenha diabetes ou que me engorde." E então todo o processo que envolve a busca pelo objeto de desejo (a ida à farmácia, os olhos ansiosos pelo cardápio à procura pelo que "não se pode") compreende o gozo. Pois bem, o gozo e a moita se conversam. Moita, pra quem ainda não sabe, é o fenômeno de angústia diante de uma roubada amorosa, sentida logo após fazermos uma cagada (por isso moita: local de excelência da merda e, quanto mais merda se faz, mais difícil sairmos da moita, pois nos desesperamos e achamos que outra merda tapará a merda anterior e assim continuamos a fazer cagadas ininterruptamente). Note que a moita pode ser ocupada por somente uma pessoa da relação, muito difícil as duas pessoas estarem inseguras, ao mesmo tempo, uma com a outra, na trama amorosa. Por isso o negócio é simplesmente sair da moita, ela não é pra dois, é pra um. Saia e o outro a ocupará, quase que inevitavelmente, por experiência da humanidade. Pois então, o gozo é o prenúncio do sentimento-moita. Nós nos enamoramos por nós mesmos enamorados. Reside aí a dificuldade de abandonarmos relacionamentos obviamente inférteis. Não temos resistência exatamente em desistirmos do outro que sabemos não render, mas de nós mesmos nesse estado monalisístico que é o de sentir borboletas na barriga. A simples idéia de não termos alguém pra bater uma punheta subjetiva ou literal na hora de dormir já nos entristece, e aí damos início ao ciclo-gozo. Mesmo sabendo que não é uma boa, manuseamos o celular, escrevemos e reescrevemos mensagens dosadas, absurdas, ousadas, apagamos, digitamos até o ápice do gozo psicanalítico: os milésimos de segundo que antecedem a tecla "enviar". A moita, por sua vez, aflora vederjante e implacável ao visualizarmos "mensagem enviada". Em resumo, ao contrário do que nos induz a pensar o senso comum, gozo e moita nada tem a ver com sexo. O bom sexo. O sexo gostoso, quente, de entrega, de antes, de depois, de café, de sexo de novo, de cumplicidade, de confiança, de amor. Nada, nada a ver...

sábado, 3 de julho de 2010

imperfeito

Foi no mesmo dia e impressionante. Ela percebeu. Podia imaginar que, enquanto ele falava, se dava a fazer imagens de boca por tudo: gengiva, odor, líquido, tecido todo vivo, ritmado, que tremia imaginando pele de dentro, molhada, cardíaca. Falava ele, pensava ela, ouvia fonemas, sem obrigação aos sentidos, entendia nada, que falava, que dizia? sabia nada, cerração de maresia, pêlo em alvo, distração, ele sabia, ela em verbo, ele sentia, e pousavam bem onde estavam, falando das coisas como se fossem os outros com quem travavam, na sala, de meias, de amigos, disfarçados de antigos, no vinho que bebiam, a pergunta se fazia.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Oitavas Palavras

interdependência. pra ela pouco aponta, não importa. desaponta.
vertem as lágrimas e, ainda assim, sorriso subcutâneo.
absurdo! diria ele.
são contrariedades, também elas sustentáveis.
e nos faremos - o quanto de sempre - todos os convites?

Psicofísica

Serviço de utilidade pública. Há algo mais público do que a rua? Há meio de transporte mais democrático do que as pernas? Não seria a calçada o símbolo máximo da civilidade? Ok, forcei a barra pra fazer mais importante e pertinente um conhecimento que quero há um tanto compartilhar. Primeiro semestre de Psicologia da vida. Cadeira de Psicofísica, uma disciplina, que descrita a grosso modo, se debruça sobre as medições do que o corpo sente e percebe, tudo traduzido em números, ou seja, qualquer coisa metida com pretenso rigor acadêmico pra tangenciar a experiência vertiginosa de ser um corpo.

Eu adorava. o cara vestia camisa engomada, suava gordinho, usava sapato social e calça de alfaiate. Formal, mas deslumbrado com esse lance de corpo com roupagem de ciência exata. Pois bem, como vendi meu carro e agora habito diariamente o vai-e-vem das calçadas, volto a lembrar desse professor todos os dias. Ensinou ele:

"Sabem quando parece que vamos tombar com as pessoas nas calçadas? Quando a gente faz um pequeno movimento de desvio para um lado e a pessoa que vem em nossa direção faz um pequeno movimento para o mesmo lado e assim podemos ficar por longos e constrangedores segundos? Pois é, se prestarem atenção, verão que isso só acontece porque as duas pessoas não se olharam no olho. Se o fizessem, parariam no mesmo instante com a titubeação e, pela comunicação entre as retinas, saberiam pra que lado cada uma deveria seguir de modo a não se colidirem."

Uaau! eu pensei. O professor arrematou dizendo que nunca as pessoas ficam ziguezagueando até a colisão, pois acabam se olhando nos olhos. E é verdade, jamais existiu uma cena de colisão após um zig-zag entre pessoas na calçada. Ele era um gênio, me fazia experimentar a vida diferente. Até hoje decido quando parar com a dancinha da calçada. Até hoje sigo na busca pela resposta à pergunta que fiz, na época, e que ele, como bom cientista devolveu: "ainda não se sabe o porquê". Hmm, com o passar dos anos, acredito que as retinas se dizem: "tá, tu segues nesse movimento pra esquerda que já iniciaste e eu... eu sigo de onde parei".

terça-feira, 9 de março de 2010

Riveira, frente e fundos.

Ó, seu Lauro, é aqui, tem que desmontar o ropeiro antes. Isso, por aqui, vai que passa, deixa que eu pego isso aqui e o selhor pega aquele outro ali ó. Fita-crepe no roda-pé? Os buraquinhos da parede todos tapados, tá branquinho! Roupas e caixotes e espelhos e colchões e sapatos pelo tabuão da sala. Tem uma sacola grande? Empilhei as coisas ali. Ela chegou! quer ajuda pra pegar as coisas? Aqui, ó, tá branquinho. Esse é o controle do portão. Um vinho e três taças? Eu também! Eu também! Tá, vou indo então. Eu te acompanho até lá embaixo. Por quê? Porque tu não vai ter a chave. (...) Botão do térreo. Mas... pode saber que é mais difícil pra quem fica. Primeira porta. Mas... a brisa, o vinho, o cigarro, a pimentinha, o alecrim, o feminino, o masculino... Portão. Abraço. Já. Enfim. Riveira, fundos e frente.

terça-feira, 2 de março de 2010

aLOU!
SSoMM
SSoMM
ensaiOOOOO

SSoMM
SSoMM

inda não, inda não!
mais tarde a gente tenta.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ah, fucking uninho bordô... eu quero um latão cor prata fosca que consuma muita gasolina de tão trambolho e gelado que vai ser!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

no tempo de um carlton

Hoje me fizeram uma intervenção sem querer: "gurias, aproveitam agora, vocês tem que estudar pra concurso federal". Pô, mas 4 mil do GHC é bastante! "Não é não, vão por mim."
Em torno de 12 mil réis por mês se ganha num concurso federal desses. Pensativa com o aluguel de fevereiro, pego meu Uninho bordô 2002 e passo pelo bairro Boa Vista pensando "será?". Nas calçadas, mulheres que já foram mais bonitas se dirigem pra academia, saem dos seus condomínios artificialmente super arborizados balançando o rabinho-de-cavalo quimicamente liso e de mechas loiras. "Será que eu tô perdendo meu tempo batalhando pra trabalhar no SUSto?" Já dizia o Domiciano Siqueira: professor e trabalhador de saúde sempre vão ser pobres, pois se descobriu há tempos que pobre é mais bem achado por pobre mesmo, e fica a gente se escravizando, dando os melhores anos das nossas vidas em nome de um lugar que a gente supõe ser ao sol. "Será..?" Mas e será que é possível ganhar 12 mil ao mês e não querer um trambolho de lata cor prata fosca que consuma muita gasolina? Será que é possível ganhar 12 mil e não desejar um salto agulha e o bairro Chácara das Pedras? O que eu faço com o meu sonho de viver com o pé na estrada, ou no meio do mato numa chacarazinha na zona sul, instigada por uma vida intelectual animada e, claro, ainda com o meu super seguro Uninho bordô 2002? Bom, mas quero os meus filhinhos naturebinhas no Amiguinhos do Verde... quanto será que isso custa? Estamos no auge da gostosura, a tez já está madura, já pegou sol sem protetor, não há filhos, há saúde e memória. Com que então gastar esses anos da puta madre? Com livros técnicos pra um futuro promissor? Com Barcelona, arte e amor no plural? Com Brasil ladeira acima, salário abaixo e meu amado, muito amado Uno bordô?
Que seja.
E vai ser de todas as maneiras.
Não tem jeito.
Só jeitos.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

amido

O Brasil é doido mesmo... Aqui se faz sushi com manga, o Xis já até esqueceu que foi queijo um dia e em Campinas o cachorro-quente leva purê! E muito! "Se não, não tem a menor graça."

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O buraco.

Ela tá a coisa mais linda nesse vídeo, presentificando todo o conteúdo da própria fala em manifestação corpórea de vertigem, balbucio, respiração curta e incontrolável, que desgoverna o ritmo de uma fala quase sempre extremamente lúcida a respeito de onde deve chegar. Dessa vez não. Ela vacila. Tão mulher, tão normal, a Mônica, tão medrosa e humana, tão mais perto de mim. É realmente amedrontador falar do nosso medo mais íntimo, aquele que inibe, que nos exibe frágil. Mas ainda quero falar da angústia que levantou acampamento e ruma por outros territórios: globalização de gêneros.
http://www.cpflcultura.com.br/posts/videos?page=2
Recomendo os primeiros minutos do vídeo; ou então todo o vídeo para quem quiser acompanhar uma reflexão mais tradicional homens são assim, mulheres são assadas. Conversa válida, muito válida, mas como ponto-de-partida para o debate acerca dos gêneros no contemporâneo, que já é outra história, independente da classe social, dependente do hemisfério mundial.
Sobre o conceito de felicidade ofertado por ele, poucas vezes concordei tanto com uma definição.
Contradizer-se,
que luxo!
Jean Cocteau

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Pra quem vai a São Paulo.

Arrisco dizer que Green Express é o melhor lugar pra dançar em que já estive. Talvez o único que me faria sair de casa para dançar da meia-noite às quatro, sem álcool ou outros entorpecentes e sozinha. Não é música eletrônica, nem samba, nem rock, nem de salão. É negro, isso é óbvio. Enfim, só indo. Sextas-feiras.

Veleidades Tropicais é uma peça excelente do grupo Cia do Feijão, que se inspira nos arranjos nacionais pra entorpecer a gente, já que estávamos de carinha desde o Green Express. Mais informações por aqui: http://www.bacante.com.br/revista/critica/veleidades-tropicais. Não li tudo o que eles dizem da peça, mas de todos os modos, confiem em mim. Tem que levar esses caras para o POA em Cena, mas não tenho grandes influências e governabilidades sobre isso. Carina?

ai.

homem e mulher da vida, metade da laranja, O Cara... en todo esto no lo creo, pero que los hay, los hay.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Alma!
Deixa eu ver sua alma
A epiderme da alma
Superfície!
Alma!
Deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma
Da minha mão
Superfície!...
Easy!
Fique bem easy
Fique sem, nem razão
Da superfície!
Livre!
Fique sim, livre
Fique bem, com razão ou não
Aterrize!...
Alma!
Isso do medo se acalma
Isso de sede se aplaca
Todo pesar não existe
Alma!
Como um reflexo na água
Sobre a última camada
Que fica na
Superfície!...
Crise!
Já acabou, livre
Já passou o meu temor
Do seu medo sem motivo
Riso, de manhã, riso
De neném a água já molhou
A superfície!...
Alma!
Daqui do lado de fora
Nenhuma forma de trauma
Sobrevive!
Abra a sua válvula agora
A sua cápsula alma
Flutua na
Superfície!...
Lisa, que me alisa
Seu suor, o sal que sai do sol
Da superfície!
Simples, devagar, simples
Bem de leve
A alma já pousou
Na superfície!...
Alma!
Daqui do lado de fora
Nenhuma forma de trauma
Sobrevive!
Abra a sua válvula agora
A sua cápsula alma
Flutua na
Superfície!...
Lisa, que me alisa
Seu suor, o sal que sai do sol
Da superfície!
Simples, devagar, simples
Bem de leve
A alma já pousou
Na superfície!...
Alma!
Deixa eu ver sua alma
A epiderme da alma
Superfície!Alma!
Deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma
Da minha mão
Superfície!...
Alma!
Deixa eu ver!
Deixa eu tocar!
Alma!
Alma!
Deixa eu ver!
Deixa eu tocar!
Alma!
Alma!Superfície
Alma!
Alma!
ALMA!

Zélia Duncan

http://www.youtube.com/watch?v=leZT1qg8iUs

domingo, 4 de outubro de 2009

a mi me gusta el gusto de mescla

Pois é, hoje no almoço fiz uma coisa que eu adoro, mas que não faço à toa pra não banalizar, pra manter o "especial", o divertido. Quibebe, salada de tomate com rúcula bem temperada, pasta de cenoura com alho, arroz e legumes variados ao vapor. Reguei de azeite, vinagre balsâmico. Olhei o prato, pausei, sorri e com a faca e o garfo misturei, misturei tudo, adoro! Vejo a minha mãe inconformada e explico que, com o frio junto ao quente, não quero tornar morno, quero sentir o frio junto com o quente - talvez, claro, agora menos frio e menos quente. Com o docinho junto ao azedinho, não quero um gosto homogêneo nas papilas, quero o contraste. Acho que ela entendeu.
Diário Coletivo, 2006.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

CsO

"O corpo é tão-somente um conjunto de válvulas, represas, comportas, taças ou vasos comunicantes: um nome próprio para cada um, povoamento do Corpo sem Órgãos, Metrópoles, que é preciso manejar com o chicote. O que povoa, o que passa e o que bloqueia?"

pg. 12 do Mil Platôs 3 - Capitalismo e Esquizofrenia, Gilles Deleuze e Félix Guattari.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Mulherzona - Semi-árida

Cada uma no seu banheiro em meio a fios-dentais, pêlos e calcinhas:

_ Cara, a menopausa é um desaforo, né?
_ É.
_ Tu sabe que hoje eu ouvi da dentista lá da Unidade que a mulher, na menopausa, tem mais tendência em ter cárie...
_ Han...
_ Porque diminui a salivação, que é um dos fatores que contribui pra prevenção das cáries. Tipo assim, diminui a salivação, a buceta seca, a mulher fica toda menos úmida! Vai tomá no cu, sabe... Achei um desaforo.
_ É, o negócio é tomar hormônio, minha filha, e dê-lhe hormônio!
_ É, negócio é ter câncer de mama.
_ É, hormônio, câncer, arranca as teta, enfia o silicone e fica com a buceta molhada.
_ É.


_ Boa noite!
_ Boa noite!
Inconstância pra todo o sempre
Sempre muda, muda sempre
O inesperado seguramente
A mudança que depende

Varia tudo

A mesmisse de repente
Fica assim eternamente
Inconstância habitualmente
Sem cessar o diferente
Muda repetitivamente. Tititi.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Mulherzinha - Batom Vermelho

Por que será que eu nunca consigo sair com batom vermelho em boca? Quantas vezes quando criança, quando adolescente e mesmo agora, eu não me postei diante do espelho, me olhei bem no olho, resgatei toda a memória genética do feminino e pensei: “hoje vou de boca vermelha”, como num ato de coragem e tesão. Eu tinha quatro anos em Jaguarão. Filha única, brincava muito sozinha com uma imaginação quase delirante: sempre peças, histórias inventadas, tramas amorosas e familiares – em geral, mamãe brigando com filhinha - feitas a partir do nada, do ar, de uma fralda de pano na cabeça que me transformava numa mulher cabeluda e poderosa. Distraída com uma dessas interpretações, houve um dia em que a tevê de imagem esverdeada estava ligada, e uma cena de novela me capturou por completo, nunca mais me saiu da cabeça. Era uma briga entre duas mulheres, batiam boca, se interrompiam a fala, daquelas disputas de poder que marcam, que dão desejo de matar. A outra estava em fúria e enxotava a mulher que já se dirigia à porta, mas esta, antes de sair, virou-se, jogando a cabeleira preta pra trás com um movimento brusco, mas certeiro: “Cuidando, hein! Cuidado porque eu sou uma mulher Perigosa!” Ela devia estar usando batom vermelho, era muito fodona, pontual, capaz de calar a boca de qualquer um; só uma boca vermelha nos anos oitenta tinha esse poder sobre as outras. Ela deixaria o apartamento sim, mas com a promessa de um retorno que com certeza amedrontou a rival. Acho que passei anos – tá certo, talvez fossem alguns meses daquele verão – diante do espelho, com a boca vemelha, repetindo: “Cuidado! Eu sou uma mulher perigosa, hein!” Sempre tive um batom vermelho na gaveta do banheiro (atualmente, tenho inclusive um na bolsa - esse tampouco realizado), o coloco uma vez a cada três semanas com a intenção de sair pra rua com ele, mas sempre acabo tirando com o papel higiênico. Nesse ritual, lamento a minha covardia, boto o papel no lixo e antes de sair pela porta, me encaro novamente no espelho. Ao invés de encontrar a superioridade inatingível e invicta das bocas vermelhas, me deparo com o ar borrado, recém pálido, mas inchado e exausto de lábio em ressaca, o que me parece um flagrante muito mais interessante do que o intocável: “Cuidado, hein! Cuidado porque já fui beijada!”

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sabotagem



A descoberta do Brasil se deu no ano de 2009. O “Forró de R$ 1,00” acontece todo domingo, no meio de uma rua com bares, ao lado de uma praça em Recife. A banda é teatral e sacana, de constranger qualquer um que se toma por malandro diante da implacável e bem dada backing vocal do grupo, sem-vergonha que só. Letras afiadas, som muito bom, só começam quando todos dão - bem gostoso - R$1,00 pro chapéu. Até que isso aconteça, eles improvisam e enrolam, abrindo o espaço para os que queiram recitar sua poesia. É nesse momento que sobem ao palco os doidos. Começam com versos absurdos e ruins; me constrangem, a mim e a todos, imagino. Aguardo a intervenção da banda pra que cortem o momento, retirem o microfone, façam qualquer coisa pra interromper aquela exposição por que estão passando os doidos da praça. Nada. Eles vão até o fim; olho à minha volta e a mais incomodada parece ser eu mesmo. O público reage descontraído, ri, acha ruim, acha nada, enfim, sabe-se lá. Começo a me dar conta do meu espanto sem cúmplices. E não param de chegar ao palco viajandões. Numa hora, o depoimento de uma recém saída da internação psiquiátrica, chapadona de remédio dizendo que tinham cortado ela no braço aqui, aqui e aqui: recebe as boas-vindas da banda pois foi a primeira que se levantou de uma mesa pra dançar, quando, há 3 anos, começou o “Forró de R$ 1,00” na rua. De um lado para o outro, um black power que dançava e ria sozinho, outro que recebia oxum; tinha também uma velha de 80 anos, magricela, musculosa, inteiraça, sedutora pra caralho, total domínio do rebolado e da cabeça que se lançava pra frente e pra trás a la rock&roll. E quando dei por mim, a praça e a rua estavam cheias de loucos, putas, bêbados, estudantes, turistas, elite metida a antropóloga, artistas, velhos, gurizada... era um povo que se desconhecia previamente e que, mesmo assim, dançou sem parar por umas cinco horas, fazendo quadrilha, dançando de par e ciranda – uma das danças circulares típicas de Pernambuco. Em meio a tudo aquilo, percebi o meu próprio senso tutelar, bem aquele que, em nome da proteção e da não exposição, confina, cria simulações, estimula a arte de louco pra louco. Achei aquilo incrível, flagar-me em plena desterritorialização conceptual. Sabotagem cultural! Pensei.

Maraca

Maraca é o nome que os índios dão àquela espécie de chocalho usado nos rituais de dança. Maraca significa coração, ou seja, não pode parar de ser tocado e então, o transe rítmico. É objeto querido, cada índio constrói o seu, e cada pedrinha dentro colocada representa um evento importante na vida do índio. Maraca, Maracanã, Maracatu. Por que raios, na escola, quando criança, eu aprendi a fazer somente trabalhinhos de impressionismo e não me ensinaram a confeccionar o meu próprio Maraca? Esse é só mais um fragmento que me diz da ignorância cultural que eu tenho do meu próprio território-Brasil desde a minha chegada na Bahia.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ando caçando o momento do adormecer, tentando prestar atenção naquele segundo em que se cai no sono, uma busca de anos na qual não encontro resposta porque, obviamente, eu adormeço TODAS AS NOITES. Antes, claro, de me revirar com a insônia dos olhos que se agrada por demais da companhia dos pensamentos.

Toda noite é a mesma coisa, eu tento estar atenta ao exato segundo em que adormeço pra ver como é que acontece e, quando vejo, acordo de manhã. Mas essa noite eu saquei a hora exata do sono, vivi a explicação do dormir, foi tão legal que me despertei de novo e prometi que não ia esquecer.

É assim ó, dá sono pensar no trajeto do pensamento que se faz por galhos, fugas por links, associações nem tão livres assim. Retomar o trajeto dos pensamentos produz caminhos que já não fazem mais sentido. Tenta retroceder o pensamento que deu origem ao mais recente, tudo fica uma loucura: alucinação noturna, sonho, e é por esse desligamento da realidade lógica-organizativa, onde as linhas de raciocínio são compartilháveis, que os processos mentais, em alguma instância, se desligam do globo ocular, do tímpano, do olfato.

Há um desligamento com o mundo externo porque há esse desligamento com os sentidos das coisas. Enquanto há sentido lógico-circunscrito, o pensamento se liga aos sentidos, a essa superfície do corpo, mas quando entra a maluquice dos nossos pensamentos, ou melhor, dos nossos sonhos, o sensório desiste de ficar acompanhando, ativado; fica muito distraído com aquele delírio (isso do sentido – sense - e dos cinco sentidos pode dizer alguma coisa sobre a esquizofrenia e as drogas, talvez?).

O delírio - o sonho - é o que faz o cair em sono. Então tem esse jeito aí de induzir o delírio que é tentar pensar como chegamos a pensar o que estamos pensando: é difícil, se desvia e se fantasia, tudo de bom. Todos os dias enlouquecemos e temos barato, for free! pra libertar!

Faz tempo

Faz tempo que não me vêm as coisas que eu não sei
Faz tempo que eu perdôo
Os desencantos
E já cansei
Das vontades perdidas, do descaso autorizado
Das normas de vida, do verso frustrado

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

fascínio

Por que será que criança gosta tanto de lanterna?

domingo, 2 de agosto de 2009


As três às gargalhadas: eu, Fabiola e Marta. Mas era risada de dor de barriga. Os barezinhos estavam cheios, passarmos despercebidas era desafio e nunca soubemos do nosso êxito ou não, nossa saudade só queria saber uma das outras. A gente ria, ria, ria e nenhuma conseguia pagar o amigo do estacionamento, nenhuma queria. A Marta, então, se concentrou e conseguiu pagar. A Marta é uma nariguda bonita, o nariz tem muita certeza de que deveria estar ali. Ela sente o nariz tão dela que acabou se afeiçoando por ele. Mas a Marta é muito mais do que o nariz convicto e a cabeleira crespa esbranquiçada; ela é caçadora de emoções, ao ponto de caçar déjà vus. Ao ponto de pegar aleatoriamente um livro (dentre os que nunca leu) e escolher qualquer parágrafo, qualquer trecho, com a intenção de um dia ler inteiro o tal livro e ter um déjà vu ao passar pelo fragmento perdido e esquecido nos anos. É bem essa a Marta.

E aquele carro não chegava nunca, besteiras consecutivas, era tão bom rever as gurias. Sempre gostei delas pelos mesmos motivos da época do colégio, discordamos da mesma natureza de concepção das coisas e nos alfinetamos do mesmo modo de antes; nos reconhecemos. De vez em quando é bem bom revê-las. Estamos meio afastadas, é verdade, mas, quando nos vemos, acabamos nas gargalhadas depois de custar um pouquinho quebrando o gelo.

A Fabíola era a ruiva da turma, porque, em toda turma, alguém deve cumprir esse papel. Sobre grupos, ela tinha uma teoria, que de repente até alguém já escreveu e eu não sei, nem ela, portanto, a teoria dos grupos é dela. A Fabíola diz que não importam os N grupos ao qual uma pessoa pertença, ela vai sempre se deparar com um mesmo papel em todos eles, mesmo que não queira. E assim ela tem vários exemplos: dos caras que sempre são o inconveniente, o engraçado, o líder... nem que seja o discreto, é difícil um vivente se livrar desses papéis ainda que se esforce. Vem daí a fantasia do ser humano de mudar de colégio, de cidade ou de planeta e começar tudo de novo, como a grande chance de ser diferente diante de quem se desconhece, mera ilusão. Olhar pessimista, mas ela insistia no imperativo desses ciclos e suas constâncias para tornar verossímel o seu pequeno constructo. E assim a Fabiola devaneia sobre a angústia do homem que se repete pra se entender, mas não o consegue, não sabe dizer o porquê e não sai daquele déjà vu desbotado.

Déjà vus e Marta. Eu, Marta e Fabiola olhando para o carro que chega. Dou passos mais devagar, Marta dirige e deixo Fabiola escolher se quer ir à frente ou atrás. Na verdade eu sabia que ela escolheria o banco da frente, era configuração praticamente dada, andei devagar como que para criar uma situação na qual fazíamos de conta deixar ao imprevisível nossas escolhas de sentar atrás ou na frente. E percebi isso ao sentar no banco de trás, afinal, elas eram melhores amigas na época do colégio, sempre foram, as duas meio cúmplices, eu deveria ceder; a Fabiola deveria tomar o seu lugar na frente e a Marta deveria assim mesmo querer. Tinha de ser assim, ficaria ruim de outro jeito. Caso contrário, as duas não iriam gostar, sentiriam as coisas nos lugares errados e eu também. Mas isso eu reparei em um segundo, logo veio um assunto e esqueci de pensar em ritornelos. E se elas não perceberam, naquela ocasião, devem ter se dado conta daquilo em outras, essa coisa de se saber que, em alguns momentos, o lugar é no banco de trás; assim, os encontros se mantêm. Até que se queira perder, na insignificância, o trecho já lido.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Ontem. Ontem eu caminhava pela Gonçalo de Carvalho. Porto Alegre, acúmulo de anos. Eu, 23. Casas antigas, grandes e charmosas. Uma senhora no para-peito. Boa tarde. E pergunta se estou olhando a casa dela, logo me dizendo que eu fazia bem em estudar, pois aos 90 anos, aos 90 anos é triste. E penso então, “ah, a senhora também acha?” Penso isso, mas digo séria “é?”, pedindo, descaradamente, para que me contasse mais daquilo (“me fala do que sinto”). E me fala - aquela velha que se via, foi bonita – como foi feliz com seus dois maridos, que teve três filhos, mas que a perda desses homens se resumia naquele momento do para-peito de estar só e infeliz (“ah, a senhora também?”) com a sua porção de anos. Conta da rua, dos vizinhos que conhece, dos filhos e dos maridos uma outra vez. Digo com um nó que quero ter uma vida como a dela. Ela diz então, olhando pra cima, com o olho azul-cinza: “ah, sim, eu fui feliz”. E eu penso “É, a senhora também”.