quarta-feira, 23 de junho de 2010

Oitavas Palavras

interdependência. pra ela pouco aponta, não importa. desaponta.
vertem as lágrimas e, ainda assim, sorriso subcutâneo.
absurdo! diria ele.
são contrariedades, também elas sustentáveis.
e nos faremos - o quanto de sempre - todos os convites?

Psicofísica

Serviço de utilidade pública. Há algo mais público do que a rua? Há meio de transporte mais democrático do que as pernas? Não seria a calçada o símbolo máximo da civilidade? Ok, forcei a barra pra fazer mais importante e pertinente um conhecimento que quero há um tanto compartilhar. Primeiro semestre de Psicologia da vida. Cadeira de Psicofísica, uma disciplina, que descrita a grosso modo, se debruça sobre as medições do que o corpo sente e percebe, tudo traduzido em números, ou seja, qualquer coisa metida com pretenso rigor acadêmico pra tangenciar a experiência vertiginosa de ser um corpo.

Eu adorava. o cara vestia camisa engomada, suava gordinho, usava sapato social e calça de alfaiate. Formal, mas deslumbrado com esse lance de corpo com roupagem de ciência exata. Pois bem, como vendi meu carro e agora habito diariamente o vai-e-vem das calçadas, volto a lembrar desse professor todos os dias. Ensinou ele:

"Sabem quando parece que vamos tombar com as pessoas nas calçadas? Quando a gente faz um pequeno movimento de desvio para um lado e a pessoa que vem em nossa direção faz um pequeno movimento para o mesmo lado e assim podemos ficar por longos e constrangedores segundos? Pois é, se prestarem atenção, verão que isso só acontece porque as duas pessoas não se olharam no olho. Se o fizessem, parariam no mesmo instante com a titubeação e, pela comunicação entre as retinas, saberiam pra que lado cada uma deveria seguir de modo a não se colidirem."

Uaau! eu pensei. O professor arrematou dizendo que nunca as pessoas ficam ziguezagueando até a colisão, pois acabam se olhando nos olhos. E é verdade, jamais existiu uma cena de colisão após um zig-zag entre pessoas na calçada. Ele era um gênio, me fazia experimentar a vida diferente. Até hoje decido quando parar com a dancinha da calçada. Até hoje sigo na busca pela resposta à pergunta que fiz, na época, e que ele, como bom cientista devolveu: "ainda não se sabe o porquê". Hmm, com o passar dos anos, acredito que as retinas se dizem: "tá, tu segues nesse movimento pra esquerda que já iniciaste e eu... eu sigo de onde parei".