segunda-feira, 16 de março de 2009

O mar a beber. Drogas II

O mar a beber. O mar com sede quer tudo engolir e, fanfarrão insistente que é, não pára de avançar. Embriagado de si, depois, de ressaca, se joga na areia; também ele tem temperamento, só que, ao contrário de muitos, fica de bom humor de manhã cedo, depois da noite virar - ainda que seguido de um belo trago - muito provavelmente por continuar a tragar. O mar a beber, vontade de se ilimitar, insaciável o mar quando se põe a beber.

Um comentário:

alice disse...

O mar é a coisa mais subversiva que há.
Em tempos de velocidade, em capital de resmungos gritados, passos apressados, veículos acelerados, nessa capital de sangue quente, de calçada com ondas preto-e-branco, aliás, bem ao lado dessa calçada, ou atrás, pra quem está no pastoso e fervente pixe - ali atrás, na capital do que é rápido e rasteiro (na capital do medo constante da rasteira), está sempre o mar, irredutível, em sua lerdeza descomunal.
O mar, como disse, contraria isso tudo. Suas ondas são azuis, e não alvinegras. São plácidas.
O mar, bem aqui nessa capital, resiste: está sempre em câmera lenta.