terça-feira, 28 de abril de 2009

O Trem das Onze

O que eu vou dizer agora pode romper com alguns imaginários de pureza e inocência, é sempre bom preparar. Tenho uma revelação a fazer aos que ainda não se deram por conta. Ninguém me convence do contrário: o rapaz filho único que deve pegar o Trem das Onze é, na verdade, um típico homem casado do início dos anos 60 - que perdeu o bonde da liberação sexual e recorre às donzelas enganáveis - cujo sopro de vida é frequentar a casa da boneca do outro lado da cidade. Sabe o que passa? Prefiro acreditar que ele é um cavalheiro até nas mentiras do adultério do que a versão "tenho de voltar porque mamãe me espera antes da meia-noite, sou um pastel". Imagino ele saindo pela porta, descendo devagar as escadas, como que se controlando pra não sair em saltos pelos degraus, a comemorar mais uma pequena; afinal, deve manter certa melancolia na despedida. Já na calçada, ele se viraria e a prenderia com a mais profunda ternura no olhar grave; vestiria o chapéu e seguiria até a estação simulando desolação. Mal percebe ele o andar ganhando peso na medida em que a sua aventura fica para os lados da zona sul, fazendo questão de diluir as sensações, de maneira a não perceber o exato daquelas vidas, é melhor assim. Chegando o Trem das Onze, ele já teria esquecido.

4 comentários:

alice disse...

LINDO!

e da janela, a noivinha-que-gorou-e-melancolizou o observa, certa de que se descabelará na manhã seguinte.
ah, o amor romântico!

Super disse...

e entretanto tão atual

Super disse...

ATUALIZAAAAAAAAAAAA

carilevi disse...

tao atual.. atualiza... nao entendi a conexao... ;)
camila FO-DA!