segunda-feira, 20 de setembro de 2010

continua...

Eu chegava, sentava no sofá sombrio, e alguém ia chamar a Fernanda, que sempre demorava; provavelmente levando o tempo de ser convencida a não faltar com a educação, de portanto descer e me receber, em plenos treze, mesmo não disposta a brincar com a vizinha de seis. Enquanto esperava no sofá, eu sentia o cheiro doce e proibido do catchup nas torradas que davam para o gato comer. Minha mãe nunca comprava catchup - era, portanto, meu objeto de desejo - o que me fazia achar um desbunde bizarro o gato merecer tamanho mimo. Eu amava aquele cheiro e, pensando agora, sou inclinada a acreditar que ia àquela casa por solidão e por desejo de torrada de gato com catchup. Um dia, sentadinha e, ignorando toda e qualquer insanidade infantil que já me habitava, levantei do sofá, conferi a ausência de outros da casa, me dirigi à tigela e pequei satisfeita.

Um comentário:

Super disse...

e no próximo fim de semana, quando tu visitares a tia lenita, ela estará te esperando com um prato de torradas com catchup. seja para aliviar a culpa ou para jogar na tua cara a ingratidão, ora desejar torradas de gato quando tua mãe se esmera tanto na cozinha pra te dar uma alimentação saudável e saborosa.